quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Língua Afiada: Não pertube ou Não perturbe?





Há palavras que, invariavelmente, provocam dúvida na fala e na escrita.
Esta coluna quer contribuir para eliminar as dúvidas.
 Confira!


Frustrado - esta é a grafia correta, apesar de muitos escreverem e pronunciarem, equivocadamente,
frustado.

Perturbe - não é raro a palavra aparecer precedida do não, mas com a grafia errada: Não pertube.

Beneficente - é comum a gente ouvir ou ler sobre um evento beneficente chamado de beneficiente.

Gratuito - esta surge sempre e tem repercussão especialmente na fala, quando as pessoas
dizem gratuíto, como se a palavra tivesse acento no i e não tem. O fato de a palavra “gratuito” não ser acentuada graficamente é uma indicação de que a sílaba tônica é -tui.

Circuito - também é comum alguém dizer circuíto, que enquadra-se no mesmo caso de  gratuito. A sílaba tônica é - cui.


Nota-se, também, que com o Acordo Ortográfico, muitas pessoas na hora de escrever, eliminam a acentuação em palavras como público, polícia, política, mantém, porém, dúvida, dívida 
e muitas mais. 

As regras de acentuação do ditongo aberto (éi, ói, éu) e do hiato com “i” e “u” tônicos só sofreram alteração nas palavras paroxítonas, aquelas cuja sílaba forte é a penúltima, como assembleia, ideia.
Nas oxítonas que contêm ditongos abertos, os acentos são mantidos. É o caso de chapéu, escarcéu, herói e também de uma boa quantidade de plurais (lençóis, faróis, anéis, painéis, papéis, carretéis etc.) e de formas verbais (corrói, corróis, destrói, destróis, constrói, constróis etc.). O mesmo vale para os monossílabos  (céu, réu, mói, róidói, réis etc.).
Observe que o acento é importante nesses casos, pois é necessário para indicar a pronúncia aberta. Basta observar, por exemplo, o par correu/corréu. Ambas as palavras são oxítonas, mas cada qual tem sua pronúncia. “Correu” é a forma do verbo “correr”, como todos sabem; “corréu” é uma grafia nova, fruto das novas regras de hifenização (antes era grafada “co-réu”). “Corréu” é, na linguagem jurídica, o indivíduo acusado ou condenado pela participação com outra pessoa em um mesmo delito.
A regra vale também para os monossílabos. É o caso de réis/reis, por exemplo.
Outras paroxítonas que perderam o acento foram as que terminam em “oo”. É o caso de palavras como zoo (redução de “zoológico”), voo (substantivo ou verbo) e enjoo (substantivo ou verbo), entre outras. Observe que, na primeira pessoa do singular dos verbos terminados em “-oar” conjugados no presente do indicativo, temos exemplos desse tipo de ocorrência: abençoar (abençoo), amaldiçoar (amaldiçoo), acolchoar (acolchoo), afeiçoar-se (eu me afeiçoo), perdoar (perdoo), povoar (povoo) etc.

Algumas formas verbais apresentam a duplicação da vogal “e” na sua sílaba tônica. São paroxítonas que também perderam o acento gráfico. É esse o caso em que se enquadram as terceiras pessoas do plural dos verbos “crer”, ler” e “ver” no presente do indicativo: eles creem, eles leem, eles veem. Vale a regra para os verbos deles derivados por prefixação: descreem, releem, preveem, anteveem etc.  O verbo “dar” também produz formas desse tipo, mas no presente do subjuntivo, quando sua vogal temática “a” se converte em “e”: “Espero que elesdeem a volta por cima!”.
ATENÇÃO
Merece atenção especial o verbo “prover”, que, embora não seja derivado de “ver”, segue a sua conjugação no presente do indicativo. Assim: Eles proveem a despensa toda semana.
NÃO CONFUNDA
Os verbos “ter” e “vir” mantêm o acento na terceira do plural quando conjugados no presente do indicativo. Assim: ele tem/eles têm, ele vem/eles vêm.
Verbos deles derivados por prefixação conservam o acento agudo na terceira do singular e o circunflexo na terceira do plural. Assim: ele mantém/eles mantêm, ele detém/eles detêm; ele intervém/ eles intervêm, ele provém/eles provêm etc. Todas as formas recebem acento, pois são oxítonas terminadas em “-em” (como vintém, refém, Belém, também, porém etc.). O acento circunflexo nas formas de plural tem o objetivo de estabelecer distinção gráfica, não de pronúncia.
Não vale confundir ”eles proveem” (verbo ”prover”) com “eles provêm” (verbo “provir”). “Prover” é abastecer; “provir” é vir (de algum lugar).
DICA
As formas de segunda pessoa do singular dos derivados de “ter” e “vir” também são acentuadas, pois, a exemplo de parabéns e reféns, são oxítonas terminadas em “-ens”. Assim: tu entreténs, tu deténs, tu intervéns, tu provéns etc.
HIATO
Quanto à regra do hiato, conforme já foi dito, pouca coisa muda. As alterações limitam-se às paroxítonas cuja sílaba tônica em “i” ou “u” (seguidos ou não de “s”) sucede a um ditongo. Assim:bocaiuva, feiura, Costa do Sauipe, maoista etc.
Não sofreram alteração as oxítonas em geral, independentemente de haver (ou não) ditongo antes do “i” e do “u” (Piauí, teiú, tuiuiú, Jundiaí, Itajaí, baú etc.) nem as paroxítonas cuja sílaba tônica em “i” ou “u” não seja antecedida de ditongo (saída, juízes, egoísta, egoísmo, saúde, alaúde, amiúde, miúdo, balaústre etc.).
OBSERVAÇÃO
Não se acentua a palavra juiz, mas acentua-se o seu plural, juízes. O mesmo vale para raiz/raízes.



Diferenciais
Já se disse que quase todos os acentos diferenciais foram suprimidos pelo Acordo Ortográfico, mas dois permaneceram: o do verbo “pôr” e o da forma “pôde” (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo). O motivo da manutenção do acento gráfico de “pôde” é para marcar o tempo passado. 
Assim: “Ele não pode fazer isso” (presente) é diferente de “Ele não pôde fazer isso” (passado). 




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